sábado, junho 10, 2006

Vens ou Ficas?

Uma brisa suave depressa se torna num vento forte que desencadeia num turbilhão de encontros e desencontros, de pensamentos e de memórias.
A árvore de grande porte balança as suas pesadas hastes dizendo ao mundo que é forte e que está penetrada no Mundo, com raiz segura e confiante. Induz ao conhecimento da matéria e contrasta com a ramagem fina e delicada de um arbusto em crescimento, que em céleres movimentos, deixa o vento forte fazer dela o que bem entender.
Alguém, uma criatura do divino, perdida numa biblioteca qualquer, deambula de estante em estante, num scriptorium onde não há copistas e onde a empresa principal não está associada à tarefa complexa e exigente de copiar códices. Uma criatura com o simples desejo de manusear e encontrar-se com a maravilhosa face do texto e da imagem, apenas quer ler, quer que os seus olhos brilhem com a cor e a textura, quer que o seu olfacto capte o perfume do novo e do desconhecido.
A brisa suave que depressa se tornou num vento forte galga a Terra e enche de paz todas as criaturas. Que belo encontro entre o Criador, a Natureza e o Homem. Surgem memórias de outros tempos, de outros encontros, de momentos em que apenas bastava um olhar ou um beijo… de momentos em que mais parecia haver desencontros com a vida e os seus protagonistas… de momentos que não voltam mais e permanecerão pela eternidade.
O cheiro da brisa suave que se tornara no vento forte do Espírito indica o caminho para o verdadeiro, para o simples, para o continuado, para uma presença viva e eficaz de um encontro perene de Deus com os Homens.
“Para que estais a olhar para o Céu?” Porque olhais para o alto e não para as coisas simples e concretas da vida? O desejo é que surja pelo mundo a possibilidade de criar e ir ao encontro do outro.
Numa biblioteca qualquer, num scriptorium onde não há copistas, uma criatura de Deus apenas quer obter um singelo livro. Mas a vida só lhe tem proporcionado desencontros e o que é vulgar para muitos torna-se no objecto mais apetecível para ele. “Para que estais a olhar para o céu?” Olhai para as coisas do Mundo e proporcionai encontros que se tornem eficazes e criem no outro a sensibilidade e a pureza. Proporcionem encontros verdadeiros de modo a fazer crescer a ramagem fina e delicada e a torna-la numa árvore de grande porte, robusta e com as raízes bem assentes no Mundo.
A desmedida biblioteca da vida está ao alcance de todos. Um singelo livro faz parte de um encontro qualquer, numa situação qualquer, com a vida e o outro, onde cada qual é um poço de informação e de cultura, de formação e de fé. Muitos procuram e não encontram. Outros encontram sem procurar. Mas também surgem aqueles que não sabem que têm de procurar para encontrar.
A vida é uma constante procura, na qual se encontra e desencontra quem já cresceu e se tornou numa árvore de grande porte e quem ainda é um arbusto em crescimento. Estender a mão num acto contínuo e simples é um desafio e uma obrigação para todos os Homens de boa vontade.
“Para que estais a olhar para o Céu?” Ide em frente, caminhai, fazei com que os outros sintam a vida apetecível e cogitem no mais profundo do ser: "Como é belo viver neste Mundo criando por Deus". Vens ou ficas? Ficas estagnado a olhar para o céu ou partes à aventura tornando-te no Cristo continuado na Terra, que olha para os mais pequenos e lhes dá uma mão?