terça-feira, dezembro 26, 2006

Feliz Natal!!??
O percurso de um ano tende a ter como meta a festa do Natal. Algumas semanas antes os caminhos de cada um cruzam-se numa incomensurabilidade de encontros com os mais diversos estabelecimentos que apelam a um consumo desmensurado e muitas vezes utopicamente inatingivel. E toda a gente augura para toda a gente: "Feliz Natal". Nestas alturas meio mundo cumprimenta meio mundo e durante o resto do ano ninguém se apercebe que o outro existe.
Mas será que temos consciência do que desejamos? O que é o Natal? Realmente debrucemo-nos em meditação e façamos uma reflexão sobre no que realmente se pretende que seja esta festa, precisamente nesta altura do ano.
Os pagãos apercebiam-se que o astro rei do Universo ia decaindo, dando a tender que acabaria por morrer. Mas não! Eis que por esta altura o Sol voltava a iniciar um crescimento iluminador no solstício de Dezembro. Era motivo mais do que suficiente para se fazer uma grande festa ao Sol nascente.
Mas a seu tempo, a intervenção divina manifesta-se e emprega sentido à festa do Sol nascente. Deus torna-se menino, por meio de Jesus Cristo, nasce nas mais humildes condições e, aí sim, o verdadeiro Sol da Humanidade, o Sol Nascente, o Sol Divino, aparece e manifesta-se ao Mundo. Deus quer que o Homem sinta que tudo foi criado para este e que os bens da Terra são para partilhar com todos, de igual para igual. Ao menino Jesus são oferecidos os bens da terra, os bens da sobrevivência, mas também os bens que relaçam a divindidade e a grandeza espiritual deste menino, que se torna homem, que apresenta ao Mundo a sua verdadeira grandeza ao se deixar morrer numa cruz em prol de toda a humanidade. O verdadeiro cordeiro que é imolado e no Domingo de Páscoa quebra as cadeias da morte e dá vida à vida.
Por isto é que o Natal deve ser lembrado todos os dias. Porque só com a Páscoa do Senhor é que faz sentido celebrar o seu nascimento. So acreditando na sua ressurreição é que podemos acreditar que o Sol Divino se manifesta aos Homens de boa vontade.
Com esta certeza podemos desejar um Santo e Feliz Natal. Que o menino Jesus, o Filho de Deus humanado, o Messias esperado, o Sol nascente, germine todos os dias no coração de todos os Homens e Mulheres, ensinando-os o sentido verdadeiro da partilha, do amor, da paz, do encontro real com o outro que passa por nós todos os dias e não mais quer do que um simples: "Bom Dia e um Santo e Feliz Natal". Se assim vivermos, então é Natal todos os dias.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Já repararam quantas portas há na vossa rua? E quantas casa na vossa cidade? E quantas cidades, vilas, aldeias ou lugares encontram por esse país fora, pela Europa, por todo o planeta Terra?
É admirável quanta gente aparece todos os dias à nossa volta. Aparececem e desaparecem. Encontramo-nos e desencontramo-nos. Para com algumas esboçamos um sorriso, um cumprimento, atravessamos a rua, damos a mão. Mas quantas não há que passam ao nosso lado e nem nos apercebemos delas?
Quem anda por aí, por esse mundo fora, vê os mais diversos rostos. Rostos sábios, com o peso da idade, que muitas vezes até nos acenam. Rostos cheios de lucidez e de vida. Rostos tristes e outros alegres. Há milhões de seres humanos. Todos diferentes mas todos iguais. Cada um é único. Tem a sua personalidade. Mas também todos temos algo em comum: a Vida. Como é bela a vida. Como é belo viver. Cada dia, que se chama presente, é isso mesmo, um presente que nos é entregue. E o que fazemos quando nos dão um presente? Olhamos deslumbrados para ele, queremos tocar-lhe, abri-lo e explorá-lo ao máximo. É isto que acontece com cada amanhacer. Mas nem sempre gostamos dos presentes que nos dão, alguns não têm nada a ver connosco, ou até têm e ainda não sabemos porquê. Mas são dados com bondade, amor e carinho. São uma entrega do outro que se lembrou de nós. A vida é uma dádiva de Deus. Todos os dias se lembra de nós, vem ao nosso encontro e diz-nos: Bom dia! Aqui tens mais um presente! E nós ficamos maravilhados pois temos mais uma oportunidade para Lhe agradecer.
Mas infelizmente o Mundo anda de mal com a vida. Uns querem ser donos de tudo. Outros querem sobrepor-se a todos. E, claro está, os mais fracos são pisados e enxovalhados à frente do Mundo. Para que servem tantas guerras? Não só das grandes, com armas mortíferas, mas também das pequenas, do dia-a-dia, onde muitos de nós, e talvez todos nós, só queremos o que o outro tem. Não sabemos dar, mas sim tirar. Passamos a perna a quem vai a passo connosco e não nos apercebemos. Sim, a vida é uma correria, mas deve ser vivida na sua plenitude onde a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro. Onde ninguém, nem mesmo nós mesmos, tem direito a desperdiçá-la. A vida é bela. Bela demais. Aproveita-a. Vive-a. Ri, chora, corre, dá a mão, diverte-te, ama... E um dia serás recompensado por isso.

domingo, setembro 03, 2006

Encontrar o caminho certo a seguir pode ser um dom e deve ser feito com consciência, serenidade e verdade.

O percurso terrestre da humanidade e de cada um dos seres humanos engloba um ciclo de vivências que simultaneamente interagem umas com as outras e com as dos outros indivíduos. Se forem interacções verdadeiras e em amor, conseguem superar tudo e todos e permanecerão para sempre.
A vida é superada em várias fases, mas existe uma que marca e faz uma separação/ligação com todas as outras.
Todos nós somos crianças, adolescentes e jovens, fazemos um percurso escolar, social e religioso mais ou menos idêntico, atingimos a idade dos sonhos, das descobertas, da crença em que tudo é possível e da utopia de mudar o mundo com nuances mais ou menos agrestes. As responsabilidades são vividas em comunidades: família e grupos de pares. Na primeira tentamos a todo o custo quebrar tradições, ganhar autonomia e independência, na segunda olhamos para eles e queremos ser iguais, formar a nossa personalidade com base neles, muitas vezes acertamos, outras vezes não são os mais correctos, muitos vivem verdades e lógicas, religiosas e sociais, credíveis, muitos tentam a todo o custo fazer de nós marionetas de jogos sujos e perigosos. Durante esta fase fazemos os verdadeiros amigos para a vida, escolhemos um determinado percurso a percorrer e redescobrimos a família que algumas vezes tenha ficado esquecida. Actualmente, esta fracção do ciclo da vida, passa por três décadas maravilhosas e surpreendentes.
Eis que surge, a passos que o tempo permite, uma nova fase, que certamente irá englobar muitos outros percursos maravilhosos, e que deve ser aceite e vivida como um dom de Deus. O Mundo parece-nos mais real, estamos perante a linha que separa a juventude da idade para a juventude do coração e do espírito. O Mundo não é de todo contornável nem alterável. A responsabilidade assume-se como o papel preponderante e indissociável da riqueza humana. Não se inventa uma panaceia.
Olhar para trás transporta-nos à memória, que apenas nos deve ajudar a olhar para a frente. Não se torna a viver da mesma forma momentos anteriores. Tentar repeti-los? Deve ser feito com a consciência que servirá para descobrir coisas novas e que não serão iguais aos anteriores, pois cada momento é presente. É um presente de Deus a cada Homem e a cada Mulher, e os presentes não se devolvem, não se repetem e serão guardados com muito amor e carinho no nosso coração… nas nossas vidas.
Importa olhar para a frente, erguer a cabeça e seguir um caminho. Estamos amparados pela nossa personalidade, pela nossa vida, estamos amparados por Deus que nos diz que está sempre connosco.
A vida é um ciclo, cabe a cada um de nós interpretá-lo e sabe-lo viver. Cada a cada um de nós proporcionar encontros que ajudem a viver os outros. Cabe a cada um de nós não ter medo e pisar a Terra como árvores grandes, com raízes fortes, que não querem cair. Cabe a cada um de nós acreditar em Deus que, nos momentos mais difíceis, nos pega ao colo, ficando apenas um par de pegadas na areia.
Desanimar é proibido.
O ciclo da vida deve ser encarado com coragem, persistência, consciência, serenidade, verdade e amor. Para tal estarão sempre presentes a família e os amigos. Predisponham sempre.

quarta-feira, agosto 09, 2006

O que é o tempo?

Quando damos à costa terrena, por entre as inundáveis águas vertidas, damos inicio à contagem do tempo da nossa existência. Mas antes de nós já o tempo era contado. Depois de nós o tempo continuará a ser contado. Não tem início nem fim. É esta uma das maravilhas de Deus. Ao longo do tempo são amados, gerados e vividos infindáveis números de seres que com o passamento eterno dão prioridade a que outros façam a contagem do tempo.
Quando mal nos apercebemos… já passou… O que fazer? Nada. Não volta a trás… E ficará como ficou, nada se pode mudar. Ou talvez não. Talvez possa alimentar novas decisões para que os mesmos erros não sejam cometidos ou para que novas direcções sejam percorridas com maior segurança e perseverança.
Vivemos sem nos apercebermos que o tempo não volta a trás e só mais tarde é que damos conta disso, quando abrimos os baús da nossa existência. Baús reais e físicos e baús interiores e íntimos. Todos eles cheios de recordações, lembranças, boas e menos boas, que nos fazem regressar ao passado que já não é presente, que nos fazem lembrar cheiros e sabores de outros tempos, que nos fazem parecer mais novos… Mas tudo já faz parte da História e das inúmeras estórias que perfazem em conjunto a vida ou o tempo da nossa vida.
Damo-nos conta que afinal o tempo passa e não volta a trás. Para que permaneça em memória é necessário dar-mos algo de nós mesmos, é necessário sabermos viver esse tempo com realidade, consciência, maturidade, arriscando muitas vezes o impossível para que se torne acessível.
Há alturas no decorrer da nossa vida terrena que nos faz pensar nisto de forma a nos ajudar a amadurecer o futuro, para que não se dê demasiada importância a certos pormenores e menos a outros. Ajuda-nos a escolher com muito mais liberdade o caminho que pretendemos percorrer.
Abrir os baús da memória, retirar e guardar os momentos positivos e reaprender com os momentos menos bons (à nossa percepção), pode-se tornar num elixir que nos vai ajudar a acreditar que temos os pés bem assentes no Mundo, a valorizar os verdadeiros valores da vida e a perceber que existe Alguém que nunca nos abandona, que nos acolhe de braços abertos e nos manda fazer uma festa à nossa chegada e que nos pega ao colo quando caímos nas tentações e nas dificuldades da vida. Para muitos de nós esse Alguém é Deus que está sempre connosco. É nisto que devemos acreditar para que o nosso tempo seja contado com sabedoria e inteligência.
Cada momento que passa não volta mais, mas pode tornar-se uma eternidade… basta cada ser humano assim o pretender. Cabe a cada um descobrir como.

segunda-feira, julho 24, 2006

O grande mistério da vida…

Quantas vezes se escolhem caminhos e se tropeça durante o percurso? Quantas vezes se cai e o levantar para a vida parece que surge ao fundo de um túnel, inacessível e incompleto? Alguém disse que não importa tropeçar nem cair, só importa o tempo que se demora a levantar e voltar a andar. Voltar a andar num caminho verdadeiro e justo, no qual se dá tudo por aquele que se ama. Atrevermo-nos a dar um passo neste sentido permite-nos uma descoberta de generosidade pelo outro, assumindo o que é importante e verdadeiro, e sempre que o conseguimos fazer ganhamos em liberdade interior, em confiança, em realização pessoal e em coragem. Deste modo, com prudência e ponderação, vive-se um encontro verdadeiro, percebendo que cada indivíduo, criatura de Deus, é único, com limitações, com percursos e tempos próprios de amadurecimento.
Estar em coligação intrínseca com o outro é estar em sintonia com o Criador. Cada ano da nossa vida, cada mês, cada semana, cada dia, cada hora, cada intervalo de tempo mínimo a tender para o nulo, pode dissolver-se nesse mesmo instante e aquele momento que se tentava tornar único eclipsa no universo como que num buraco negro sem retorno nem memória.
Mas se realmente nos encontramos com o verdadeiro sentido da vida, o da dádiva na alegria do ressuscitado, o da dádiva gratuita ao outro, à vida e ao criador, esse encontro torna-se verdadeiro, dissolve-se o superficial e o que é importante permanece, oferecendo-nos autênticas memórias verdadeiras.
Neste contexto, o que está para trás não é um passado esquecido, mas um conjunto de telas, harmonia das nações, que constantemente suportam o presente, a mais bela dádiva de Deus a cada um dos Homens ao rair do Sol, que brota sobre a noite escuro de sonhos únicos, com cheiros e sabores, que surgem do nada, inesperadamente, quando circulamos pelo passado no presente.
O tempo não passa nem termina. O tempo vai-se transformando, dando a possibilidade de se fazerem leituras dos seus sinais àqueles que são verdadeiros e justos, àqueles que se preocupam com o grande mistério da vida.
Nunca se diga que acabou, mas exploremos no mais fundo da nossa consciência o que ainda falta propor para transformar a vida e actualizar o nosso eu perante as necessidades actuais.
Perante os encontros verdadeiros, necessários para nos continuarem a trazer memórias reais, sonhos com cheios e sabores, fotografias únicas da vida, devemos ter uma postura ponderada e prudente e não lamentarmos que caímos, mas dar-mos importância ao tempo que demoramos a levantarmo-nos e a voltamo-nos a andar. As quedas ajudam-nos se não ficarmos estanques a olhar para um passado que se torna distante e vazio.
Levanta-te, sobe às alturas e vê a alegria que vem do teu Deus.
Levanta-te, sorri todas as auroras ao Sol que se levanta.
Levanta-te, corre em direcção ao futuro, sobre o presente único de cada momento fortalecido pela memória verdadeira e constante dos momentos imediatamente anteriores que só se tornam verdadeiros se forem vividos com dedicação, prudência e ponderação.
Levanta-te e vê a alegria do grande mistério da vida que teve um princípio mas não tem fim.
Levanta-te e vê a alegria que vem do teu Deus.

sábado, junho 10, 2006

Vens ou Ficas?

Uma brisa suave depressa se torna num vento forte que desencadeia num turbilhão de encontros e desencontros, de pensamentos e de memórias.
A árvore de grande porte balança as suas pesadas hastes dizendo ao mundo que é forte e que está penetrada no Mundo, com raiz segura e confiante. Induz ao conhecimento da matéria e contrasta com a ramagem fina e delicada de um arbusto em crescimento, que em céleres movimentos, deixa o vento forte fazer dela o que bem entender.
Alguém, uma criatura do divino, perdida numa biblioteca qualquer, deambula de estante em estante, num scriptorium onde não há copistas e onde a empresa principal não está associada à tarefa complexa e exigente de copiar códices. Uma criatura com o simples desejo de manusear e encontrar-se com a maravilhosa face do texto e da imagem, apenas quer ler, quer que os seus olhos brilhem com a cor e a textura, quer que o seu olfacto capte o perfume do novo e do desconhecido.
A brisa suave que depressa se tornou num vento forte galga a Terra e enche de paz todas as criaturas. Que belo encontro entre o Criador, a Natureza e o Homem. Surgem memórias de outros tempos, de outros encontros, de momentos em que apenas bastava um olhar ou um beijo… de momentos em que mais parecia haver desencontros com a vida e os seus protagonistas… de momentos que não voltam mais e permanecerão pela eternidade.
O cheiro da brisa suave que se tornara no vento forte do Espírito indica o caminho para o verdadeiro, para o simples, para o continuado, para uma presença viva e eficaz de um encontro perene de Deus com os Homens.
“Para que estais a olhar para o Céu?” Porque olhais para o alto e não para as coisas simples e concretas da vida? O desejo é que surja pelo mundo a possibilidade de criar e ir ao encontro do outro.
Numa biblioteca qualquer, num scriptorium onde não há copistas, uma criatura de Deus apenas quer obter um singelo livro. Mas a vida só lhe tem proporcionado desencontros e o que é vulgar para muitos torna-se no objecto mais apetecível para ele. “Para que estais a olhar para o céu?” Olhai para as coisas do Mundo e proporcionai encontros que se tornem eficazes e criem no outro a sensibilidade e a pureza. Proporcionem encontros verdadeiros de modo a fazer crescer a ramagem fina e delicada e a torna-la numa árvore de grande porte, robusta e com as raízes bem assentes no Mundo.
A desmedida biblioteca da vida está ao alcance de todos. Um singelo livro faz parte de um encontro qualquer, numa situação qualquer, com a vida e o outro, onde cada qual é um poço de informação e de cultura, de formação e de fé. Muitos procuram e não encontram. Outros encontram sem procurar. Mas também surgem aqueles que não sabem que têm de procurar para encontrar.
A vida é uma constante procura, na qual se encontra e desencontra quem já cresceu e se tornou numa árvore de grande porte e quem ainda é um arbusto em crescimento. Estender a mão num acto contínuo e simples é um desafio e uma obrigação para todos os Homens de boa vontade.
“Para que estais a olhar para o Céu?” Ide em frente, caminhai, fazei com que os outros sintam a vida apetecível e cogitem no mais profundo do ser: "Como é belo viver neste Mundo criando por Deus". Vens ou ficas? Ficas estagnado a olhar para o céu ou partes à aventura tornando-te no Cristo continuado na Terra, que olha para os mais pequenos e lhes dá uma mão?

segunda-feira, abril 10, 2006

“uma passagem para aquilo que não passa”

Uma reflexão sobre o desconhecido e os encontros possíveis com ele. Uma passagem para outra dimensão onde o material e o espiritual se encontram numa encruzilhada repleta de simbolismo, de união, de sentido…
A história ou as estórias de alguém podem marcar e impressionar e fazer de um encontro um perfeito desencontro onde cada qual se mostra disponível ou apenas um deles esta disposto a dar-se inteiramente para que o outro se salve.
Mas a História é apenas um marco sobre o qual se dizem, cantam, pintam, esculpem… ideias e pensamentos, ou sobre o qual se iniciam uma era. Factos históricos facilmente são provados como verdadeiros.
Uma outra situação de encontro ou desencontro já é o facto de querermos acreditar na História tal como ela é ou como os Homens a contam. Ser fidedigno e crente pela fé é preciso haver uma preocupação intrínseca com a intensidade com que se acredita. Para despertar e fazer crescer uma fé existencial é necessário irmos ao encontro de Deus e de um dom que não é fruto do nosso querer. Pela fé é possível encontrar um sentido para aquilo que acontece no mundo exterior como quando o Sol se levanta todas as manhãs, transpondo para a nossa vida o Sol que é Cristo e se eleva em cada um de nós. Um encontro com Deus deve despertar no mais íntimo de nós mesmos a fé, a esperança e o amor numa humanidade nova.
Santo Agostinho escreve: «Através da Paixão o Senhor passou da morte para a vida, abrindo o caminho para nós, se crermos na ressurreição, para passar também nós da morte para a vida». E é este facto que tem uma incidência histórica se torna, pela fé, um caminho e encontro para as virtudes da vida, como formula São Gregório Magno.
Aplicada à Páscoa, a leitura moral tem sobre si uma influência prática na vida de cada homem e de cada mulher. «O crente deve examinar a casa interior do seu coração, para destruir tudo aquilo que pertence ao velho regime do pecado e da corrupção» (Raniero Cantalamessa).
Uma limpeza pascal vai de encontro a uma actuação concreta para deitar fora os odres velhos e construir odres novos. A ideia de passagem associada à Páscoa está ligada a uma passagem sobre a vida de cada um, uma passagem através da vida de cada um, a uma passagem para fora da vida de cada um ao encontro do outro que nos completa, a uma passagem para diante.
Depois de um olhar histórico, de um encontro pela fé, devemos encontrar a passagem para as coisas do alto e descobrir uma vivência vertical da Páscoa “passando do mundo, para não passar com o mundo” (Santo Agostinho). «Em Cristo a nossa mente encontra a verdade e a beleza que não terminará nunca de contemplar, e o nosso coração encontrará o bem do qual jamais se cansará de gozar.» (Raniero Cantalamessa).
Lendo e meditando um pequeno livro de Raniero Cantalamessa, Páscoa, uma passagem para aquilo que não passa, descobrimos o seguinte dístico latino: “A letra ensina-te o acontecimento. A alegoria, aquilo que deves crer. A moral, o que fazer. A anagogia, para onde ir” e o autor explora-o dando-lhe um sentido inserido na Páscoa de Jesus.
Primeiro interpreta uma dimensão histórica da Páscoa, indo ao encontro da letra que deve ser examinada quer no Êxodo (Páscoa dos Judeus), quer nas narrativas evangélicas da Paixão e Ressurreição de Cristo (Páscoa Cristã).
Em segundo lugar medita o sentido espiritual procurando o mistério no qual acreditar preocupando-se com a intensidade com que se crê. Uma alegoria deve indicar um facto real ou uma verdade parcial que tende à sua realização futura.
Num terceiro capítulo encontramos o nível da moral, que procura extrair da Páscoa ensinamentos práticos para a vida e para os costumes.
A terminar a interpretação do dístico latino, encontramos a anagogia, ou seja, o movimento ou impulso para o alto, subida, ascensão, no qual encontramos uma força extrínseca que se torna intrínseca e nos enche para acreditarmos que quando subirmos à verdadeira «sala de cima», onde se celebra a Páscoa eterna, será seguro que virão espontaneamente aos lábios duas palavras: Totaliter aliter! É totalmente diferente. Infinitamente mais do que aquilo que se possa imaginar (Raniero Cantalamessa).
Este pequeno livro, que aconselho para reflexão da verdadeira Páscoa, que é encontro com Cristo, connosco mesmos e com os outros, segue um caminho novo e diferente, sugerido pela doutrina tradicional da Escritura, nos seus quatro sentidos: histórico, cristológico, moral e escatológico.
O encontro com Cristo, Espectro da Noite, não como uma representação assustadora, mas como resultado da decomposição da luz complexa da Ressurreição, ocorrida num espaço de tempo entre o ocaso e o nascer do Sol, deve ser para nós a vivência da verdadeira Páscoa. Encontro da vida com a vida. Da luz com a luz, na qual as trevas ficam eliminadas para sempre e um nascer do Sol se torna perpétuo e permanece no coração do Homem.

sábado, fevereiro 25, 2006

A Fé de um Povo… de um País… do Mundo Inteiro!

È impressionante! Uma nação inteira, que se identifica como laica, ter a oportunidade de três canais de televisão, um do estado laico e sem religião, e dois independentes, várias rádios e diversos meios de comunicação social escritos, fazerem de um dia normal de Domingo, chuvoso e frio, um dia dedicado inteiramente a Fé Católica.
A Igreja Católica não precisa de se afirmar colocando grandes outdoors, fazendo publicidade dispendiosa na televisão ou tentar oferecer algo para “vender um produto”. Basta um acontecimento singelo, como a transladação de um corpo de uma mulher simples, para que toda a sociedade indague sobre o assunto e veja a programação de Domingo toda alterada a dar ênfase a uma transmissão única de celebrações religiosas católicas, com depoimentos de figuras publicas dos mais diversos quadrantes sociais.
Mas se é impressionante participar através da televisão a estas imagens, mais íntimo e grandioso é poder estar in loco, sentir as pessoas, as suas manifestações, os seus apelos… pessoas que rezam, choram… querem chegar perto, tocar, beijar, deitar flores… as pessoas simples, anónimas, do povo, que acreditam, que têm a certeza que tudo a que assistem é parte de um milagre que é a vida e que é a manifestação do próprio Deus ao Mundo.
Para se ser cristão e católico não é dogma de fé a experiência vivida em Fátima por três crianças. No entanto passar por aquele lugar, onde desde há noventa anos milhares de pessoas peregrinam à procura de uma cura, de um milagre ou para dar graças a Deus e à Virgem Maria por graças concedidas, é um oportunidade de experimentar uma fé mística, simples e ao mesmo tempo grandiosa.
Fátima é um lugar de oração onde a paz impera e o silêncio convida à capacidade de interceptarmos o stress do dia-a-dia com uma lufada de ar fresco que nos dá oxigénio para respirarmos um mundo melhor.
A mensagem de Fátima é principalmente um convite à oração, à capacidade de sermos homens e mulheres melhores, ao reconhecimento de nós mesmos e das nossas falhas. As três crianças foram a forma mais simples de esta mensagem chegar até nós com uma linguagem acessível e pura como é a dos pequeninos, pois é deles o Reino dos Céus.
A irmã Lúcia, uma das videntes, viveu e contou inúmeras vezes como quão belo foi aquele momento. Viveu na clausura mas esteve sempre perto de todos pela oração. E, assim como todos os humanos, teve o seu tempo de peregrinação entre nós, cumpriu a sua missão e Deus chamou-a para junto d’Ele e da Virgem Maria.
Passados poucos dias de completar um ano de partir para junto de Deus, a Igreja translada os seus restos mortais, as suas relíquias, para aquele local maravilhoso que tantas vezes calcorreou e brincou, entre vales e serras, e onde teve a oportunidade de ter a graça da visão de Nossa Senhora e onde pode repousar junto dos seus primos e perto de todos os que por lá passam à procura de um destino, de certezas, de encontros e de desencontros, de paz interior e de graças.
Não é este acto que me impressiona, mas é a força viva da fé que move milhares de pessoas, que as faz sair de casa, num dia chuvosa e frio, passar montanhas e vales percorrendo centenas de quilómetros, estar todo um dia a tentar guardar o melhor lugar e exclamar alto, com voz simples, humilde e sincera, voz do povo e de todos… “Olha ali vai nossa Senhora”!
E as lágrimas escorrem-lhes pelo rosto, os lenços brancos transmitem um sinal, de que cada uma delas está ali e assinala a sua presença mostrando que se se despede. Mas não é para sempre. É até um dia. Onde? Só Deus sabe. Um encontro que acaba e começa. Uma fé que se fortalece e se transforma.
No meio desta multidão é impossível estar imparcial e não sentir nada. É impossível não haver comoção e não transpor interiormente a vida à grandeza de Deus. É impossível não sentir como somos fracos e pequeninos e que o que queremos é ser acolhidos e fazermos parte de um encontro. Como é este encontro? Cabe a cada um de nós descobrir. Mas será mais fácil se vivermos cada dia da nossa vida com a certeza que quem a Deus tem nada lhe falta, pois só Ele basta.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Milão

Todos os continentes reunidos e unidos com um destino: a paz entre as nações. Como é isto possível? Milhares de jovens deixam tudo para trás e decidem passar o ano em oração. Deixam as discotecas, os amigos, a família, o champanhe e as passas… e decidem ir ao encontro.
Ao encontro do mundo, numa cidade europeia, ondas as culturas, religiões, raças, cor e língua se unem para celebrar a vida, orar pela paz e entregar-se mutuamente ao desconhecido.
Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro da paz… como são belos os olhares sobre o mundo dos mensageiros da paz… como são belos os sorrisos que trocamos entre nós para espalharmos a paz. Foi isto que ocorreu em Milão nos últimos dias do ano passado e durante a passagem para este novo ano.
Partimos ao encontro do desconhecido que nos abre uma porta e nos deixa entrar, nos oferece uma cama e uma bebida quente, nos abraça e acolhe e nos envia com um acenar de mão dizendo até sempre, até nunca mais.
Durante esses dias, milhares de jovens, sem nunca se terem visto, cruzam-se para partilhar o pão, para rezar, para sorrir, rir, abraçar… soltar a força de Deus que paira nas nossas vidas e habita nos nossos corações. Foram ao encontro e desencontraram-se, estenderam a mão e antes que pudessem dizer “olá” eram acolhidos, tentaram trocar palavras na língua daqueles que os acolhiam e um sorriso tornou-se poliglota.
Mas principalmente quiseram fazer uma manifestação pelas ruas, transportes, famílias e paróquias hasteando a bandeira da paz e da união entre todos os povos. Quiseram dizer que a paz é possível e que basta um pequeno passo de cada Homem e Mulher na Humanidade para que isso seja real e perpétuo.
A paz, o amor, a comunhão, o encontro com os mais desfavorecidos e o encontro connosco próprios é possível, e mais uma vez o provou a comunidade de Taizé.
Tornar a casa, é tornar vivo e actual no nosso dia-a-dia esta mensagem: que cada momento de vivemos não voltará mais, mas irá valer uma eternidade.