segunda-feira, abril 10, 2006

“uma passagem para aquilo que não passa”

Uma reflexão sobre o desconhecido e os encontros possíveis com ele. Uma passagem para outra dimensão onde o material e o espiritual se encontram numa encruzilhada repleta de simbolismo, de união, de sentido…
A história ou as estórias de alguém podem marcar e impressionar e fazer de um encontro um perfeito desencontro onde cada qual se mostra disponível ou apenas um deles esta disposto a dar-se inteiramente para que o outro se salve.
Mas a História é apenas um marco sobre o qual se dizem, cantam, pintam, esculpem… ideias e pensamentos, ou sobre o qual se iniciam uma era. Factos históricos facilmente são provados como verdadeiros.
Uma outra situação de encontro ou desencontro já é o facto de querermos acreditar na História tal como ela é ou como os Homens a contam. Ser fidedigno e crente pela fé é preciso haver uma preocupação intrínseca com a intensidade com que se acredita. Para despertar e fazer crescer uma fé existencial é necessário irmos ao encontro de Deus e de um dom que não é fruto do nosso querer. Pela fé é possível encontrar um sentido para aquilo que acontece no mundo exterior como quando o Sol se levanta todas as manhãs, transpondo para a nossa vida o Sol que é Cristo e se eleva em cada um de nós. Um encontro com Deus deve despertar no mais íntimo de nós mesmos a fé, a esperança e o amor numa humanidade nova.
Santo Agostinho escreve: «Através da Paixão o Senhor passou da morte para a vida, abrindo o caminho para nós, se crermos na ressurreição, para passar também nós da morte para a vida». E é este facto que tem uma incidência histórica se torna, pela fé, um caminho e encontro para as virtudes da vida, como formula São Gregório Magno.
Aplicada à Páscoa, a leitura moral tem sobre si uma influência prática na vida de cada homem e de cada mulher. «O crente deve examinar a casa interior do seu coração, para destruir tudo aquilo que pertence ao velho regime do pecado e da corrupção» (Raniero Cantalamessa).
Uma limpeza pascal vai de encontro a uma actuação concreta para deitar fora os odres velhos e construir odres novos. A ideia de passagem associada à Páscoa está ligada a uma passagem sobre a vida de cada um, uma passagem através da vida de cada um, a uma passagem para fora da vida de cada um ao encontro do outro que nos completa, a uma passagem para diante.
Depois de um olhar histórico, de um encontro pela fé, devemos encontrar a passagem para as coisas do alto e descobrir uma vivência vertical da Páscoa “passando do mundo, para não passar com o mundo” (Santo Agostinho). «Em Cristo a nossa mente encontra a verdade e a beleza que não terminará nunca de contemplar, e o nosso coração encontrará o bem do qual jamais se cansará de gozar.» (Raniero Cantalamessa).
Lendo e meditando um pequeno livro de Raniero Cantalamessa, Páscoa, uma passagem para aquilo que não passa, descobrimos o seguinte dístico latino: “A letra ensina-te o acontecimento. A alegoria, aquilo que deves crer. A moral, o que fazer. A anagogia, para onde ir” e o autor explora-o dando-lhe um sentido inserido na Páscoa de Jesus.
Primeiro interpreta uma dimensão histórica da Páscoa, indo ao encontro da letra que deve ser examinada quer no Êxodo (Páscoa dos Judeus), quer nas narrativas evangélicas da Paixão e Ressurreição de Cristo (Páscoa Cristã).
Em segundo lugar medita o sentido espiritual procurando o mistério no qual acreditar preocupando-se com a intensidade com que se crê. Uma alegoria deve indicar um facto real ou uma verdade parcial que tende à sua realização futura.
Num terceiro capítulo encontramos o nível da moral, que procura extrair da Páscoa ensinamentos práticos para a vida e para os costumes.
A terminar a interpretação do dístico latino, encontramos a anagogia, ou seja, o movimento ou impulso para o alto, subida, ascensão, no qual encontramos uma força extrínseca que se torna intrínseca e nos enche para acreditarmos que quando subirmos à verdadeira «sala de cima», onde se celebra a Páscoa eterna, será seguro que virão espontaneamente aos lábios duas palavras: Totaliter aliter! É totalmente diferente. Infinitamente mais do que aquilo que se possa imaginar (Raniero Cantalamessa).
Este pequeno livro, que aconselho para reflexão da verdadeira Páscoa, que é encontro com Cristo, connosco mesmos e com os outros, segue um caminho novo e diferente, sugerido pela doutrina tradicional da Escritura, nos seus quatro sentidos: histórico, cristológico, moral e escatológico.
O encontro com Cristo, Espectro da Noite, não como uma representação assustadora, mas como resultado da decomposição da luz complexa da Ressurreição, ocorrida num espaço de tempo entre o ocaso e o nascer do Sol, deve ser para nós a vivência da verdadeira Páscoa. Encontro da vida com a vida. Da luz com a luz, na qual as trevas ficam eliminadas para sempre e um nascer do Sol se torna perpétuo e permanece no coração do Homem.

2 comentários:

DPJG disse...

O DPJG deseja a todos os jovens, em especial aos jovens da diocese da Guarda, uma Boa Páscoa, que é o mesmo que pedir a fé... e a esperança... e o amor...

DPJG disse...

Durante este mês de Maio vai estar uma votação online no blogue do DPJG, no sidebar, do lado direito, onde poderás, livremente, fazer a tua escolha daquele blogue ou site que achas que cumpre melhor os requisitos propostos pelo Concurso Registr@te, onde participas. Recordamos que estão 8 blogues e um site a concurso. Dois dos blogues são de grupos de jovens, um do arciprestado de Celorico da Beira e outro da paróquia de Vila Fernando, do arciprestado do Rochoso. O site é de um grupo de jovens da Covilhã. Os restantes participantes do concurso são participações particulares. Podes sempre consultá-los, pois os links continuam online. A organização decidiu atribuir apenas um prémio, não distinguindo site de blogue. Na escolha devem ter-se em atenção sobretudo: conteúdo da mensagem, originalidade, interactividade com os visitantes, execução gráfica, correcção linguística, qualidade dos templates... Deve ter-se em atenção sobretudo a mensagem!O resultado desta votação contará para a votação final, a par da votação do juri convidado, a saber, alguns internautas, quer bloguistas, quer com responsabilidades virtuais cristãs no panorama português. Podes começar... e que vença... aquele que Deus quiser!